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MOVIMENTAÇÃO DE GUERRA EM WASHINGTON -

  • Foto do escritor: Jéssica Vianna
    Jéssica Vianna
  • 14 de ago.
  • 7 min de leitura

Na América Latina, salve-se quem puder. Desculpe o transtorno, a Casa Branca está em obra.

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Uma fortuita coincidência, que Donald Trump assuma o controle militar de Washington DC pelos próximos 30 dias (pelo menos), numa Intervenção Federal que colocará 150 agentes do FBI para fazer a ronda na Capital durante as noites e 800 soldados da Guarda Nacional encarregados de expurgar supostos criminosos, e pessoas em situação de rua, muitos dependentes químicos, em plena luz do dia, a “embelezar” a cidade, “torná-la segura”, justamente enquanto dá-se início a uma outra “intervenção estética”, anunciada de maneira mais banal há poucos dias por Washington, uma obra de U$200 milhões de dólares (mais de R$1 bilhão de reais), cortesia de Donald Trump e meia dúzia de seus generosos patrocinadores: a construção de um novo “salão de baile” na Casa Branca, a chance perfeita para um supersecreto upgrade no bunker. 


Oportuna coincidência, talvez seja, que alguns dias depois de divulgada pelo New York Times uma autorização, assinada em segredo por Donald Trump, que dá ordens ao Pentágono do uso de forças militares contra certos cartéis de drogas na América Latina, sinalizando uma nova era de interferência dos EUA na região, todas as cidades que o presidente estadunidense tenha escolhido mencionar durante sua Intervenção Militar em Washington, como algumas das mais violentas do mundo - Bagdá (capital do Iraque), San José (capital da Costa Rica), Bogotá (Colômbia), Cidade do Panamá, Cidade do México, Lima (capital do Peru) e Brasília, onde as tentativas de golpe de Estado e as iniciativas de guerra mais recentes nos atravessam a Soberania de modo mais direto - sofram uma série de mazelas em comum, entre elas a sina de serem estratégicas demais no escoamento global de mercadorias de toda sorte, alvos focais de uma guerra estadunidense que ora se justifica pelo discurso do combate ao narcotráfico, ora pela necessidade de uma mudança nos regimes políticos internos para configurações que favoreçam o projeto imperialista, e que, de uma forma ou de outra, culminam na invasão truculenta de uma velha lenda retórica, palavra maldita que pavimenta guerras do Tio Sam por todo o planeta e que cresce novamente como sombra sorrateira, à espreita das Soberanias de todo o mundo e sobretudo da América Latina: a famigerada ameaça terrorista.  


Modus operandi: confundir e conquistar. Enquanto joga os holofotes geopolíticos sobre nós, inundando de Bolsonaros, Lulas e Alexandres de Moraes, as manchetes de todo o planeta, Washington põe em marcha uma movimentação de guerra, e se num encontro marcado com Putin no Alaska, Trump pode reorganizar as tensões geopolíticas no Ártico e mesmo no resto do planeta, renegociando territórios, redesenhando fronteiras e zonas de influências às custas e à revelia da própria União Europeia, que se prepara para uma guerra mundial, Trump pode também liberar boa parte de seu orçamento e aparato militar para dar cabo de suas promessas contra seus vizinhos mais próximos da América. Basta um pulo breve em qualquer ponto da geopolítica mundial para saber que quando um país (qualquer um, you name it) começa a ser frequentemente propagandeado pela Casa Branca como perigoso, violento, não democrático, cercado por uma ameaça terrorista (ou comunista, que pra eles dá no mesmo) e finalmente vira alvo focal de uma missão “civilizatória” dos EUA, patronos do mundo, que tem-se precisamente o lugar na história de uma nação onde no futuro vai entrar uma nota de rodapé que, então, o defina: período do pré golpe ou pré guerra*.

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As loucas rotas da seda - Fentanil, Cocaína e Cripto.


Pelas mesmas estradas passam muitas coisas cuja taxação é calculada de outro modo e divulgada em outros meios. Enquanto em Washington DC e nas violentas cidades de Chicago e Nova Iorque, uma epidemia de zumbis, cacos de seres humanos consumidos pelo Fentanil cria uma emergência humanitária brutal, assim como o faz em outras tantas cidades do globo, Trump, é claro, faz uma leitura econômica e militar desse imenso negócio que é a vida humana no planeta Terra e dá declarações estapafúrdias que nos apressamos em questionar. Armas e drogas, contrabandos de madeira e minério atravessam portos e fronteiras em fluxos bilionários, cruzando a América Latina, desde as selvas tropicais até os cantos mais longínquos do globo e é esta engrenagem que a ele importa. Fentanil e cocaína, as drogas mais caras, sustentam a economia global do narcotráfico, mas é a guerra às drogas que movimenta a indústria global das armas. É insuflando, patrocinando grupos extremistas internos, grupos separatistas, rebeldes anti-regime, terroristas (por quê não?) que a grande potência imperialista do século XXI desestabiliza democracias por todo o mundo e instaura um caos cívico-militar que enfraquece as soberanias e abre as portas para a livre exploração de uma terra arrasada.

 

No texto de Vijay Prashad, publicado há poucos dias pela Revista Ópera, “Israel e a guerra às drogas na Síria” é possível vislumbrar o teatro de Tel-Aviv e Washington, retorcendo uma vez mais a retórica, para bombardear as coisas com muito cuidado, na disputa pela rede de Fentanil no Sul da Síria, mantendo as fazendas da droga intactas, funcionando a pleno vapor, durante as incursões. Uma fortuita coincidência, talvez seja. 


Os israelenses argumentaram que se tratava de uma nova barreira de segurança não apenas para Israel, mas também para a comunidade minoritária drusa. Mas isso era apenas uma desculpa. Aproveitando-se das lutas pelas fazendas de drogas em julho de 2025, os israelenses atacaram vários alvos, incluindo os prédios do governo em Damasco, mas não as fazendas de drogas, mais uma vez alegando que o fizeram para proteger os drusos. Mas vários líderes drusos, incluindo o xeique Sami Abi al-Muna, disseram que não precisavam da proteção israelense e que o genocídio de Israel contra os palestinos invalidava sua alegação de humanitarismo. Na verdade, os ataques israelenses visavam pressionar o ex-chefe da Al-Qaeda Ahmed al-Sharaa, agora presidente interino da Síria (que tinha sanções dos EUA contra si, oficialmente suspensas em 30 de junho de 2025).

No episódio 3 da série “Guerras Contemporâneas”, da TV Diálogos do Sul Global com Vanessa Martina-Silva, é possível vislumbrar alguns dos muitos estragos unidos na história recente da Guerra na Síria. No episódio “Guerra no Iraque”, o mesmo modus operandi e o mesmo trágico preço pago podem ser observados. Na revista Diálogos do Sul Global publicou-se também, não faz muito, um artigo do periódico La Jornada: “Governo dos EUA volta a culpar cartéis do México por fentanil”, onde um outro anúncio recente da Casa Branca denota uma guerra iminente às drogas e ao terrorismo dessa vez no nosso continente: a “Operação Recuperemos a América”. Mas o caso brasileiro é de longe, econômica e militarmente mais interessante ao projeto colonialista estadunidense que se desenrola a olhos vistos.


Adiciona-se ao leilão geopolítico alguns dos portos mais estratégicos para o comércio global de commodities de toda sorte, um território continental, repleto ainda, por incrível que pareça, de Petróleo, de terras raras e minérios estratégicos, com um imenso e super organizado esquema internacional de drogas e armas, e ainda com as condições ideais de lavagem de todo esse dinheiro produzido, seja através das Bets, das fintechs e mesmo dos influenciadores digitais, transformando toneladas de cocaína, fentanil, arma e minério, num processo alquímico e “ethereum”, fazendo com que tudo o que é sólido se dissolva em criptomoedas no tabuleiro geopolítico


Mera coincidência, talvez seja, que enquanto o STF sofra sanções e ataques diários de Washington, por ousar definir uma regulamentação das Redes Sociais, das BigTechs, das Bets, o presidente Donald Trump ostente uma aliança e proximidade peculiares com uma certa familícia, prestes a ser condenada no Brasil por Golpe de Estado. Curioso que, sem muito alarde, o PL proponha na câmara dos Deputados, uma audiência, no próximo dia 20 de agosto, que discutirá uma proposta de lei para a criação de uma reserva nacional estratégica em Bitcoin, criptomoeda que bateu recorde histórico, um dia depois do tarifaço contra o Brasil, na mesma semana em que a 17ª cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, dava indícios parcos, mas suficientes, da criação de uma moeda digital comum. Is this a Genius Act or what? - trocadilho com a recém aprovada legislação estadunidense sobre Stablecoins.


Mas se em Brasília, desde o 8 de janeiro, estabeleceu-se um climinha de guerra sobre plano piloto, viver no modo guerrilha e sob um clima apocalíptico, é uma quarta-feira qualquer no Rio de Janeiro onde a Faixa de Gaza, de fato existe, fica em Manguinhos, longe apenas o suficiente do Complexo de Israel. Desde a antiga capital do Brasil, cidade do Porto Maravilha e das vigas perdidas da perimetral, da guerra constante entre as milícias armadas, exporta-se petróleo e modelos de negócio. Desde o Rio, o Comando Vermelho expande em um modelo de “franquias do crime” como definiu em entrevista ao jornal O Globo, o coordenador núcleo de pesquisas GENI, da UFF, Daniel Hirata, estabelecendo joint-ventures por todo o Brasil e adaptando-se aos mais diversos contextos locais, ganhando capilaridade por todo o território nacional. Segundo levantamento recente do Globo, PCC e outras 64 facções criminosas atuam hoje no Brasil.


Que grupos como PCC e CV, inimigos mortais das milícias e das forças armadas do Estado, aliados às máfias italianas, chinesas, manipuladores de uma cadeia comercial de bilhões de dólares, deixem de ser um problema nacional de segurança pública e sejam considerados organizações terroristas transnacionais, como o lobby da extrema-direita continua a veementemente advogar que sejam, e se tornem alvo prioritário da “Guerra às Drogas e ao terrorismo” na América Latina, parece a desculpa e a aterrissagem perfeita para o Golpe principal. 


Toda a recente movimentação de Washington é um sintoma, e deveria ser um alerta de guerra no Brasil. As instituições democráticas aqui jazem sob pressão e descrédito, a desestabilização da nossa economia e soberania avança a galopadas. As rotas abertas da América Latina, para o tráfico de drogas, de armas, e das commodities estratégicas que não entram no cálculo oficial, abrem novas rotas à Besta, e são caminhos para a implementação de uma velha conhecida política de terras devastadas, que tanto melhor pros EUA, quanto mais forem raras. É preciso cuidado! O novo salão de baile da Casa Branca pode ser sobre as nossas ossadas.


 
 
 

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