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THE CRYPTO ISSUE

  • Foto do escritor: Jéssica Vianna
    Jéssica Vianna
  • 13 de jul.
  • 9 min de leitura

Atualizado: 22 de jul.

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A 17ª Cúpula do BRICS, no Rio de Janeiro, não foi esvaziada, tampouco desimportante, muito até pelo contrário. É bem verdade que vimos uma tímida face política do bloco econômico, sob a presidência brasileira, que pediu reformas no conselho de segurança da ONU, no acordo de Bretton Woods, no Fundo Monetário Internacional, na Organização Mundial do Comércio; que pediu a criação de uma Governança Global em Inteligências Artificiais, centrada na ONU, e propôs a estapafúrdia solução de dois Estados para o Genocídio em curso na Palestina que evitaram mencionar com todas as letras devidas. Mas não se engane, nada na economia global acontece sob as ordens do acaso.


Há questões geopolíticas, rivalidades históricas e impasses entre os países que compõem o bloco e que devem ser consideradas. Destacando a questão Índia - China, num evento organizado pela agência Sputnik Br, no Rio de Janeiro, na sexta-feira anterior à cúpula, o economista brasileiro Paulo Nogueira, ex vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, apontou muito bem a heterogeneidade política do grupo e afirmou: 


“Os BRICS têm uma tradição arraigada de resolver por consenso, entendido rigidamente como unanimidade. Essa é uma receita para a paralisia. Por exemplo, a Índia. A índia é hoje um país problemático dentro do grupo BRICS. Ela se opõe à muitas iniciativas. Por exemplo, se opôs a uma linguagem mais dura, que eu saiba, na questão de Gaza, e no ataque de Estados Unidos e Israel ao Irã. E bloqueia sistematicamente o nosso avanço como grupo em matéria de desdolarização.” 


O que fazer? Ele sugere: “Vamos suspender a ampliação do grupo, que já está ficando grande demais e dificulta a nossa coordenação eficaz. (...) Vamos atuar em forma de subconjuntos.(...) precisa quebrar essa tradição de consenso.” 


Dois dias antes do novo tarifaço de Trump, que seria agora especialmente direcionado ao Brasil, Paulo Nogueira relembrou as muitas ameaças prévias do presidente estadunidense já feitas à criação de uma nova moeda, processo que julga haver avançado pouco nos últimos anos, e desvelando então a face econômica do bloco, afirmou: “Mas tem uma coisa menos conhecida que a Índia, que atrapalha muito o processo do BRICS: são os nossos bancos centrais, com destaque para o Banco Central Brasileiro”. Tendo participado na concepção e na construção tanto do NDB quanto do Arranjo Contingente de Reservas (ACR), dois dos mecanismos econômicos mais centrais do BRICS, Paulo Nogueira avalia: 


“Muito importante que essas duas coisas tenham sido feitas, mas verdade seja dita: o progresso nesses 10 anos, sobretudo, no Arranjo Contingente de Reservas, no fundo monetário dos Brics, foi muito pequeno. Os nossos bancos centrais congelaram o Arranjo Contingente de Reservas, e ele praticamente não funciona. E o NDB avançou? Avançou sim. Mas está muito, ainda, aquém do que nós queríamos, que era formar um banco global, alternativo ao Banco Mundial e aos bancos globais.” 



Cortinas de fumaça e a ameaça terrorista interna.


A taxação de Trump, com a participação da familícia, deu a entender que a meta de Eduardo é fazer com que o STF se renda à pressão estadunidense no que diz respeito ao julgamento do pai por tentativa de golpe de Estado, estando condicionadas as supostas (porque ainda hipotéticas) tarifas a uma anistia irrestrita. Mas a imediata e assertada resposta do presidente Lula ao ocorrido - “isso sim é terrorismo”, numa interessante escolha de palavras, escancarou a correlação entre a tentativa de interferência política seja por vias jurídicas, ou através da opinião pública, com as crescentes investidas estadunidenses às milícias nacionais, que pavimentam uma possível intervenção militar sob um discurso civilizatório, colocando na ordem do dia do debate público a velha questão da Soberania versus a Ameaça Terrorista Interna. 


Com tantas distrações, tantas declarações que precisam ser revisadas à certa distância e sob os olhos do cuidado, é difícil permanecer atento ao que há de mais central. Se por um lado Bolsonaro dinamitou grande parte de sua base política, ou seja, o Agro e a Faria Lima, apoiando e mesmo instigando a taxação de 50% das exportações brasileiras aos Estados Unidos, é importante observar que por outro, reforçou seu compromisso com uma força econômica, também alternativa ao dólar, que costumamos ignorar: as articulações escusas do crime em torno do tráfico internacional de drogas e armas, e das estruturas de lavagem dos bilhões de dólares que gerenciam. Porque se, com este movimento, Bolsonaro aparentemente dinamita parte da própria base política, o quê então ele está negociando? O que interessa a Donald Trump em defender Jair Bolsonaro, cuja família é frequentemente acusada de coordenar uma extensa rede criminal de milícias, desde o Rio de Janeiro com influência nos principais portos do Brasil e mesmo dentro das forças de segurança nacional? 


A Guerra é comercial, mas é híbrida. Enquanto a mídia hegemônica enlouquece e a de esquerda se inebria, a regulamentação das Bets acontece e eu venho de novo lembrar a vocês que em 2024 no Brasil, o valor aplicado nas apostas online foi 7 vezes superior aos investimentos na Bolsa de Valores do país. Como já esmiucei no artigo “O Jogo do Bicho (versão BigTech) - Dos Influenciadores do Tigrinho à Joint-Venture do tráfico contra a CIA”, venho apenas lembrar-lhes do crescente lobby estadunidense para que facções como CV e PCC sejam reconhecidas como organizações terroristas transnacionais, a serem então, combatidas pelos patronos do mundo, segundo suas regras próprias. As BigBets, baseadas em paraísos fiscais como Malta, são investigadas pela Polícia Federal, por vezes em colaboração com a Interpol, por estarem vinculadas às máfias italianas, à fintechs da Faria Lima, à organizações criminosas transnacionais, movimentando muitos bilhões de dólares por fora do controle do Fundo Monetário Internacional e fora ainda do sistema Swift.  


Analistas como Celso Amorim, Leonardo Trevisan, Pepe Escobar e Paulo Nogueira, costumam concordar que é difícil encontrar alguma lógica nas ações de Trump mas na dúvida do que está de fato acontecendo, I say we follow the fucking Money. Porque na penumbra da noite pro dia, durante esta mesma semana, Pablos Marçais e seus primos ricos ganharam bastante dinheiro. É bagunçando as cadeias de valores, criando ele mesmo alternativas ao sistema Swift, assim como os que arbitrariamente abandonaram o padrão dólar-ouro, que o laranja Donald e sua trupe pegam carona no atual processo global de desdolarização, e que eles mesmos o aceleram, o que parece estranho. Mas enquanto o NDB encontra problemas para consolidar uma moeda única, alternativa ao dólar, uma tecnologia, disponibilizada a partir dos EUA, justamente um mês depois da histórica falência do Lehman Brothers, durante a crise econômica global de 2008 (que talvez nunca tenha de fato acabado), alça vôos autônomos e passa ao largo das análises econômicas mais refinadas embora na última década tenha talvez superado em performance o Arranjo Contingente de Reserva do NDB: são as raramente mencionadas cryptomoedas. 


Cryptomoedas e Blockchains.


Segundo a Folha de SP, em 2024, Criptomoedas movimentaram mais de R$ 200 bilhões no Brasil. A primeira e a mais relevante entre as criptomoedas, o BitCoin é uma moeda digital descentralizada, ou seja, não controlada por governos, completamente autônoma em relação aos bancos centrais e a quaisquer intermediários financeiros, cujo preço é definido principalmente pela lei da oferta e da demanda. O Bitcoin é uma reserva contingencial de valor, e em meio à ameaça tarifária de Donald Trump, a matéria da InfoMoney anunciou: Bitcoin dispara, rompe os US$ 118 mil e alta histórica derruba vendidos. 


Em 2008, um pseudônimo, Satoshi Nakamoto, publicou um artigo intitulado “Bitcoin: Um sistema de dinheiro eletrônico entre pares” onde desenhava um sistema de transações financeiras baseadas na criptografia. A tecnologia revolucionária apresentada no artigo era a Blockchain: uma cadeia de registros digitais em blocos interdependentes. O Bitcoin, seria uma moeda digital que registraria todas as suas transações através das Blockchains, sem lastro físico, independente das instituições financeiras nacionais, que não tem lastro mas tem limite de produção decrescente, finita, diferente das moedas nacionais que podem ser impressas ao prazer dos Bancos Centrais. Que empresa administra a tecnologia BitCoin, quem sãos seus sócios, representantes, responsáveis? Até hoje ninguém sabe.


As criptomoedas que não são o Bitcoin, as Altcoins, ganharam o mundo sob os mesmos fundamentos e até com atualizações próprias, como a Ethereum, Altcoin até mais usada em transações internacionais que o Bitcoin, que hoje funciona mais como lastro de valor para outras criptomoedas do que como moeda de troca. Estamos falando de transferências globais de valores, o que, em meio a tantas outras coisas que dizer, me parece adequado ao fato de que foi anunciado durante a cúpula do BRICS um Acordo de cooperação em blockchain Brasil - Vietnã na mesma semana em que o Brasil sofreu um ataque hacker de gigantes proporções à uma instituição financeira, o maior crime financeiro da história do Brasil. Nesta mesma semana ainda, um credenciamento polêmico na famigerada ilha de Malta, pôs de novo em alerta a União Europeia, já que as empresas que operam criptomoedas em território Europeu, tem até 2026 para enquadrar-se na recentemente criada MiCA, política de regulação do Mercado de Criptoativos. Malta, diz-se, é a escolha favorita dos cryptomilionários, por sua infraestrutura tecnológica e financeira peculiar.


Me espanta que entre tantas manchetes, nós falemos tão pouco do assunto quando há um uso cada vez mais expressivo de Stablecoins (moedas digitais lastreadas em moedas nacionais, um tolkien utilitário, construído sobre a blockchain de uma outra moeda) e de impasses jurídicos e políticos, por exemplo, por toda a África, na Nigéria, no Quênia, em Gana, Zâmbia, onde stablecoins, muitas delas lastreadas no dólar, estão sendo adotadas em transações internacionais de grandes remessas de valor, como forma de contornar burocracias e a própria inflação; ou quando não faz muito que o presidente da Argentina, Javier Milei, performou uma participação especial num golpe milionário envolvendo criptomoedas, que se pararmos pra pensar, talvez seja o episódio que nos dê o mais claro indício da lógica trumpista, e eu nunca pensei que diria isso, mas nesse contexto talvez faça sentido pensar que haja algo de anárquico nesse capitalismo. Me espanta que não falemos do assunto quando no mesmo maio de 2025 em que se agravava o conflito entre Índia e Paquistão, o governo Paquistanês anunciou, em Las Vegas, a criação de uma reserva estratégica de Estado em Bitcoin o que pareceu uma espécie de salvo-conduto estadunidense ao Paquistão com relação à Índia. 


Voltando ao caso da Índia, são tantas perguntas que me sobram por fazer… Afinal a moeda dos BRICS, seria uma stablecoin, ou seja, lastreada em uma moeda nacional? Quem tem uma moeda forte e estável que pudesse agir como moeda fiduciária para isto é a China, o que claramente é o principal impasse: a histórica rivalidade e desconfiança entre Índia e China. Mas seria possível criar uma moeda do BRICS sem a cooperação da Índia? Ainda que seja abolida a necessidade consenso (possibilidade aliás que foi ressaltada na declaração final da cúpula), como funcionaria um sistema financeiro global do BRICS sem a particular habilidade indiana em ciência da computação? A Índia sabota a criação de uma moeda global alternativa ao dólar ou sabota o BRICS? Porque por lá, as criptomoedas vão também de vento em popa.


 O Bilionário indiano Mukesh Ambani, dono da empresa de comunicações JIO, que conta com 450 milhões de usuários na Índia, acaba de fechar uma parceria com a empresa Polygon Labs, desenvolvedora de Blockchains, que também teve origem no país e hoje se apresenta como empresa descentralizada, global, para a implementação de diversas novas funcionalidades aos aplicativos da JIO, incluindo a possibilidade da criação de um tolken próprio, a JioCoin. A Polygon Labs, que inclusive atua também no Brasil em colaboração com a Nubank, desenvolve soluções para a rede Ethereum, a enorme rede de blockchain descentralizada, detentora de uma das criptomoedas mais utilizadas em transações financeiras globais.


Mesmo com tanto dinheiro em jogo, ou talvez exatamente por causa disso, a minha impressão é de que a gente vem habilmente contornando o tema até que seja inevitável abordá-lo diretamente. E foi nesse aspecto que a 17ª cúpula dos Brics chamou particularmente a minha atenção, porque pela primeira vez, as Criptomoedas entram no radar do BRICS em debate sobre uso de tecnologias por grupos criminosos:



“ Reiteramos nosso compromisso com a prevenção e o combate a fluxos financeiros ilícitos, incluindo a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo, extremismo e proliferação, bem como outras formas de crime organizado transnacional, como tráfico de drogas, crimes cibernéticos, crimes que afetam o meio ambiente, tráfico ilícito de armas de fogo, tráfico de pessoas, corrupção e uso de novas tecnologias, incluindo criptomoedas, para fins ilegais, em particular terroristas.” - trecho do ponto 36 da declaração dos líderes do BRICS. - pág 11



E daqui pra frente só me restam perguntas. Será que foi isto o que por fim emputeceu Donald Trump? Qual é o novo lastro do dinheiro? A confiança? A estabilidade? O consenso? O Petróleo? O poder computacional? Os recursos hídricos, os humanos, os saberes tecnológicos, as terras raras? Estamos contabilizando todas as commodities? Os dados? As armas? As drogas?  É possível que a conversa de uma nova sede do Banco do BRICS no Rio de Janeiro esteja atenta e atrelada a tudo isso? Is there someone else following the crypto issue?


 
 
 

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